Não eram só empresários e pecuaristas que aproveitavam os benefícios da relação familiar entre os desembargadores investigados pela operação Ultima Ratio e os filhos advogados. As suspeitas de crime extrapolava os lares.
A Polícia Federal encontrou contratos entre os escritórios das famílias investigadas e prefeituras de Mato Grosso do Sul, que também tiveram processos julgados pelos envolvidos no esquema de corrupção no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul). A soma entre os acordos fechados entre os escritórios e os órgãos públicos somam mais de R$ 1,1 milhão, segundo apuração da Polícia Federal (PF).
Para a PF, os contratos entre os filhos dos desembargadores e as prefeituras são indícios de que os advogados usavam o vínculo familiar para obter benefícios, além de apontarem para a "possibilidade de que os advogados atuassem como intermediários da venda de sentenças".
No topo da investigação estão Alexandre Bastos e a filha Camila Bastos.
Segundo a polícia, o desembargador, que tomou posse em 2016, tem dois filhos advogados. Camila assumiu o lugar de Alexandre Bastos no escritório em que, antes de assumir o cargo no TJMS, ele atuava
De 2021 até 2024, o escritório, que possui outros dois sócios, firmou contrato com seis prefeituras do estado, são elas:
Durante as apurações, as equipes da PF identificaram pelo menos três processos julgados pelo desembargador Bastos em que as prefeituras foram representadas pela filha eram parte.
Dois desses processos envolviam o município de Costa Rica. Ambos foram analisados por Bastos em 2022. Com base na quebra dos dados bancários dos envolvidos, a polícia constatou que no mesmo período, a Câmara Municipal de Costa Risca fez transferências para o escritório de Camila.
Os dados bancários também revelaram grandes quantias, que somadas ultrapassam R$ 53 mil, enviadas do escritório de advocacia para uma empresa de consultoria tributária, na qual Bastos foi sócio e ainda hoje tem procuração para movimentar uma das contas.
Outro ponto destacado pela investigação é que o Ministério Público Estadual moveu uma Ação Civil Pública por suspeita de dano ao erário – ou seja, por prejuízo para os cofres da cidade – no contrato feito entre a Prefeitura de Sidrolândia e o escritório de Camila Bastos no ano de 2017, que segundo a ação, ocorreu sem licitação.
O valor do contrato foi de R$ 122.400,00.
A PF também encontrou relação entre o desembargador Sideni Soncini Pimentel e uma das prefeituras de Mato Grosso do Sul, a de Dourados.
O fio condutor entre o desembargador e a prefeitura, segundo as investigações, é Rodrigo Pimentel, filho do desembargador. À época, o filho do magistrado trabalhou como advogado para o município em 2019.
Ocorre que o contrato foi firmado sem licenciamento e por isso foi considerado irregular pelo TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul) e pelo MPC-MS (Ministério Público de Contas de Mato Grosso do Sul).
Em novembro de 2020, o contrato foi encerrado. Antes disso, no entanto, enquanto Rodrigo ainda atuava pelo segundo maior município do estado, o desembargador Sideni Pimentel julgou dois processos que tinham com a prefeitura como parte.
Um dos processos tratava de uma indenização por danos morais, que teve a sentença anulada pelo desembargador. Já a segunda decisão, rejeitou um recurso contra uma decisão favorável à prefeitura de Dourados.
O jornal entrou em contato com todas as prefeituras citadas. Os pedidos de retorno foram feitos via assessorias de imprensa ou ouvidorias. Até a última atualização deste conteúdo, nenhum órgão havia respondido aos questionamentos.