Após a denĂșncia publicada pelo jornal midiamax, sobre um perito da PolĂcia Civil que estaria envolvido em ameaças a anotadores do jogo do bicho do grupo paulista rival do grupo que supostamente seria liderado por Neno Razuk (PL), a perĂcia do Estado afirmou estar apurando os fatos.
0 perito estava usando o celular pessoal para fazer ameaças a anotadores que se recusavam a trocar o grupo paulista pelo grupo de Razuk.
"A PolĂcia CientĂfica de Mato Grosso do Sul informa que estĂĄ tomando conhecimento dos fatos mencionados e darĂĄ inĂcio às apurações cabĂveis. Reiteramos nosso compromisso com a transparĂȘncia e a seriedade no tratamento de todas as questões que envolvem nossos servidores."
Em julho, o Midiamax denunciou policiais que estariam recebendo propina para atuarem na intimidação a anotadores do grupo paulista. Comerciantes que atuam como anotadores de apostas denunciaram policiais militares e civis que estariam abordando os cambistas para impor a mudança do controle das banquinhas do jogo do bicho para os donos da "Banca BR".
JĂĄ em agosto foi protocolada na Corregedoria da PolĂcia Civil, denĂșncia de que um perito criminal estaria ameaçando anotadores que se recusavam a trocar de grupo para atuar com Neno Razuk. O policial estava usando o celular pessoal para fazer ameaças aos anotadores. Inclusive, no caso denunciado teria feito "tocaia" em frente a residĂȘncia do denunciante.
O documento a que a reportagem teve acesso mostra que as novas ameaças começaram um dia antes de 8 de julho. No dia em questão, uma segunda-feira, a vĂtima disse que estava em casa junto da famĂlia. Uma vizinha teria mandado mensagens dizendo que tinha visto parado em frente a casa do anotador um Fiat PĂĄlio, de cor vermelha, com trĂȘs homens, em atitude suspeita.
Um deles desceu do carro e passou a fazer fotos da residĂȘncia, indo, inclusive, até o portão se abaixando e fazendo fotos de dentro da garagem da vĂtima. Logo em seguida, o homem voltou para a esquina onde continuou de "campana". Momentos depois, a esposa do anotador saiu da residĂȘncia e percebeu que estava sendo seguida pelo mesmo veĂculo que anteriormente estava em frente de sua casa.
Com medo, ela parou em uma farmĂĄcia para abrigar-se e ligou para o marido que pediu que acionasse a polĂcia. Um dos ocupantes do carro ainda desceu e ficou na esquina "cuidando" a mulher que saiu do local indo em uma loja de roupas.
Ela foi seguida mais uma vez pelos ocupantes do carro. O marido da mulher foi em seu encontro e quando chegou ao local, o ocupante do Fiat PĂĄlio que estava de "tocaia" foi embora. Em seguida, a PolĂcia Militar chegou ao local e de acordo com a vĂtima, um dos militares que estava no local seria um conhecido.
Ao mostrar a foto do suspeito para o policial, ele não o reconheceu. No entanto, ainda conforme o relato, dias antes de ter a esposa perseguida, o anotador revelou que recebeu mensagens com ameaças e intimidações. As ameaças determinavam que ele parasse de trabalhar no grupo que estĂĄ atuando em Campo Grande, no jogo do bicho.
As ameaças ainda traziam que ele deveria trabalhar na atual empresa do mesmo ramo, do próprio Estado e que seria do deputado estadual Neno Razuk (PL). A ameaça ainda dizia que se ele continuasse trabalhando para a empresa paulista, seria preso.
No dia 20 deste mĂȘs um celular foi encontrado na cela onde estĂĄ encarcerado o major da PolĂcia Militar, Gilberto dos Santos, conhecido como "Barba" e apontado como gerente do jogo do bicho.
O Jornal entrou em contato com a assessoria do deputado para saber sobre os fatos, jĂĄ que o nome do parlamentar é citado na denĂșncia, a defesa se manifestou, "Neno Razuk não tem ciĂȘncia desse fato. E nega em absoluto qualquer envolvimento nisso. EstĂĄ à disposição das autoridades, para esclarecer o que for necessĂĄrio. O contraditório — ouvir o outro lado — é garantia legal que, uma vez observada, evita prejuĂzos descabidos", disseram em nota os advogados André Borges e João Arnar.
O Jornal entrou em contato com a PolĂcia Civil para saber sobre a denĂșncia contra o policial, sendo informado que foi protocolada a denĂșncia por suposta ameaça. Confira a nota:
"Referente aos questionamentos apresentados por esse veĂculo de comunicação, acerca de suposta ameaça praticada pelo perito, figurando como pretensas vĂtimas, apontadores do jogo do bicho, a PolĂcia Civil tem a esclarecer que, após pesquisas levadas à efeito, constatou-se que aludido servidor não pertence aos quadros da PolĂcia Civil do Estado de Mato Grosso do Sul. Esclarecemos, ainda, que em consulta ao sistema informatizado da PolĂcia Civil, não consta nenhum registro de ameaça, figurando como autor a pessoa do perito. Em consulta junto à Corregedoria Geral da PolĂcia Civil, foi constatado ter sido ali protocolada uma reclamação/representação em desfavor do policial, por suposta ameaça contra apontadores do jogo do bicho, entretanto, considerando que referido servidor pertence aos quadros da Coordenadoria Geral de PerĂcias, ou seja, instituição não subordinada à PolĂcia Civil, o documento em referĂȘncia serĂĄ redirecionado à Corregedoria daquela Instituição, para os fins pertinentes."
Assustados, alguns apontadores que trabalham em Campo Grande relataram à reportagem do Jornal, em julho, que estavam com medo até de sair de casa. Segundo eles, quem trabalha para a banca atual passou a sofrer ameaças para supostamente "aceitarem" o controle de Razuk.
Os relatos envolvem policiais e até o suposto uso de viaturas oficiais nas represĂĄlias disfarçadas de abordagens. Um dos apontadores contou ao Jornal que faz os jogos, mas que desde a semana passada estĂĄ com medo.
A reportagem teve acesso a filmagens e fotos que, segundo os denunciantes, revelariam a suposta presença de policiais entre os capangas escalados para "visitas" de coerção. Ademais, os alvos das ameaças afirmam que até abordagens policiais "oficiais" estariam sendo usadas para "forçar a barra".
"Pessoal veio aqui oferecendo as novas maquininhas do jogo do bicho e disseram que quem não aceitar, não vai mais trabalhar em Campo Grande", revela o apontador.
Segundo ele, colegas estariam sendo levados até para delegacia onde seriam coagidos a passar informações sobre os atuais "patrões". Estranhamente, ainda segundo os relatos, os dados sobre quem estaria por trĂĄs da guerra não constariam nos TCOs (Termo Circunstanciado de OcorrĂȘncia) que são obrigados a assinar, jĂĄ que são flagrados em contravenção.
O major aposentado da PolĂcia Militar, Gilberto Luiz dos Santos, conhecido como "Barba", foi apontado como gerente do jogo do bicho no reduto da organização criminosa, segundo denĂșncia do Gaeco a qual o Jornal teve acesso.
Segundo a denĂșncia do Gaeco, "Barba" exerce um controle sobre os integrantes do grupo criminoso no que diz respeito às articulações da organização criminosa para a tomada do controle do jogo do bicho em Campo Grande, sempre atendendo aos comandos do suposto lĂder, o deputado estadual Roberto Razuk Filho, Neno.
Major Gilberto lidava ostensivamente com intermediĂĄrios, oferecendo treinamento, controlando a ação dos "recolhes" e "apontadores" do jogo do bicho, sem comprometer a imagem do chefe da organização, apontado pelo MPMS como sendo Neno Razuk.
Quando flagrado na casa no Monte Castelo, em outubro de 2023, por policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), ocasião em que foram apreendidas 700 mĂĄquinas do jogo do bicho, o major havia dito que estava na residĂȘncia jogando com outras pessoas.
O delegado que era titular do Garras também entrou na "dança das cadeiras" promovida na PolĂcia Civil após a troca do delegado-geral e foi removido.
No entanto, na época, foi apreendida uma agenda que estava com o militar aposentado onde constavam nomes e o esquema de funcionamento atual do grupo de São Paulo, que supostamente estĂĄ no controle do jogo do bicho em Campo Grande.
Na agenda ainda foram encontrados os nomes de "recolhes" ligados ao grupo de São Paulo, que supostamente estavam na mira do grupo supostamente chefiado por Neno Razuk, seja para deixarem o grupo para o qual trabalhavam ou para serem alvos de nova ação.
Fonte: MidiaMax